Perigo de fraturas na velhice: entenda a osteoporose e saiba como se cuidar

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição afeta mais de 15 milhões de brasileiros. Especialistas explicam riscos e dão dicas de prevenção

A atividade física é fundamental para a prevenção de osteoporose
A atividade física é fundamental para a prevenção de osteoporose Foto: Freepik

Como vai a saúde dos seus ossos? Muita gente deixa para se preocupar com isso, quando já é tarde demais. Mulheres após a menopausa e homens a partir dos 50 anos fazem parte dos grupos mais afetados pela osteoporose, doença que impacta mais de 500 milhões de pessoas em todo mundo, de acordo com dados da International Osteoporosis Foundation (IOF). Só no Brasil, são 15 milhões de diagnósticos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A osteoporose é uma doença em que a mineralização do osso diminui, tornando-o mais frágil”, explica o ortopedista Marco Demange, professor associado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). “Pode acontecer tanto no processo de envelhecimento do indivíduo, que é o mais comum, como de forma secundária, ligada, por exemplo, a doenças renais ou hormonais”, acrescenta.

Com a desmineralização e com a alteração da arquitetura óssea, que é a forma como os ossos são organizados e sustentados no corpo, há mais suscetibilidade a fraturas. “Tudo o que se faz no acompanhamento da osteoporose tem como objetivo de evitá-las”, explica o ginecologista e obstetra Marcelo Steiner, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO), ginecologista e especialista no impacto do sistema imunológico sobre o metabolismo ósseo.

Isso porque é o aumento do risco de fratura que torna a osteoporose mais perigosa, sobretudo para os idosos. As que ocorrem na área do quadril são consideradas as mais graves. Um estudo publicado na Alemanha pela Aging Clinical and Experimental Research apontou mortalidade de 19,7% para idosos, nos primeiros 90 dias após esse tipo de fratura, chegando a 38% entre os homens. Além de complicações graves, como infecções e coágulos sanguíneos, as fraturas podem ser seguidas por eventos como embolia e tromboembolismo pulmonar. Metanálises apontam ainda que, um ano após a fratura, 40% dos pacientes não conseguem mais andar de forma independente e 60% precisam de algum tipo de auxílio permanente.

Osteoporose também acomete pessoas jovens

Ao longo da vida, o corpo humano ganha e perde massa óssea – e isso é normal e esperado. De tempos em tempos, o organismo “dissolve” partes do osso antigo, liberando cálcio e fósforo para o sangue, em um processo conhecido como reabsorção óssea. Para repor a perda, ocorre a formação de nova massa óssea no lugar. Quando o corpo reabsorve mais osso do que forma é que se dá a chamada perda óssea.

Durante a infância e a adolescência há um ganho acelerado, que atinge seu pico por volta dos 30 anos. Entre 30 e 40 anos, há uma estabilização. A partir daí, começa a queda”, explica Steiner.

Embora os idosos sejam o maior grupo de risco, a osteoporose não é uma doença exclusiva da maturidade e pode, sim, acometer outras faixas etárias, incluindo crianças e adolescentes. Nesse caso, é chamada de osteoporose secundária, causada por fatores como:

  • Uso prolongado de medicamentos, especialmente corticosteroides em doses altas e frequentes.

  • Doenças como artrite reumatoide juvenil.

  • Alterações no metabolismo do cálcio, como ocorre na insuficiência renal crônica.

  • Osteoporose de desuso, provocadas por lesões, paraplegia ou outro impedimento para realizar atividades físicas.

Prevenção começa na infância – e segue por toda a vida

Como você já viu, o processo de perda e ganho de massa óssea acontece em intensidades diferentes, ao longo do crescimento e do envelhecimento. “A prevenção deve começar desde a infância”, alerta Marcelo Steiner, presidente da ABRASSO.

O médico afirma que, para isso, é fundamental manter uma alimentação com doses adequadas de cálcio, além da exposição solar para a síntese de vitamina D, que ajuda na absorção deste nutriente. “Quando há deficiência de cálcio na dieta, ele é retirado do osso para manter o equilíbrio sanguíneo e isso prejudica o tecido ósseo”, destaca. Por isso, caso seja detectada alguma alteração dos níveis de cálcio e vitamina D, é importante fazer a suplementação, sempre com orientação médica. E atenção: dietas restritivas e excesso de exercícios sem reposição calórica adequada também podem afetar a saúde óssea.

A alimentação, portanto, é uma questão central quando se fala em proteger os ossos. Além do cálcio, é importante garantir uma boa ingestão de proteínas e energia. “Leite e derivados, verduras verdes e peixes com espinhas são boas fontes de cálcio”, recomenda o especialista, que lembra que pessoas em dietas vegetarianas ou veganas precisam de atenção especial ao aporte nutricional.

A atividade física é outro fator fundamental para a prevenção de osteoporose, já que o estímulo mecânico do músculo induz a formação óssea. “Exercícios resistidos, como musculação e pilates, são excelentes”, indica Steiner. “Para idosos, exercícios de equilíbrio são essenciais, já que reduzem o risco de quedas e fraturas. Em geral, todas as atividades de impacto moderado (como dança, futebol, vôlei) ajudam, desde que feitas com segurança. E quanto mais cedo começar, melhor”, orienta.

Hábitos para manter longe

Enquanto algumas medidas favorecem, outras prejudicam a manutenção da saúde óssea ao longo da vida, segundo o ortopedista Marco Demange. Entre os principais fatores prejudiciais estão:

    • Tabagismo

    • Consumo excessivo de café

    • Consumo excessivo de álcool

    • Sedentarismo

O ortopedista explica que o excesso dessas substâncias altera o ciclo de produção hormonal, aumentando a produção de cortisol – o chamado “hormônio do estresse”. Tanto o cigarro como o álcool são produtos que aumentam o processo inflamatório do corpo, atrapalham o ganho de massa muscular e da parte óssea. “De forma geral, eles agem por múltiplos fatores, afetando, inclusive, as células responsáveis pela produção de ossos, inibindo-as”, detalha o especialista. Evite!

Como é feito o diagnóstico

Embora seja uma condição silenciosa, os sinais de alerta para a osteoporose devem ser observados de acordo com o histórico e a exposição aos principais fatores de risco. Pessoas com menopausa precoce, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, histórico familiar de fraturas e uso de certos medicamentos precisam de mais atenção. “Doenças como diabetes tipo 1, cânceres que exigem quimioterapia ou uso prolongado de corticoides também exigem cuidado. Durante o rastreamento clínico, o médico deve identificar esses fatores para definir se o paciente é de risco”, explica Steiner.

O principal exame para detectar a osteoporose é a densitometria óssea, que avalia a densidade mineral nos ossos da coluna, do colo do fêmur e do quadril. “Outra ferramenta é o FRAX Brasil 2.0, uma calculadora de risco que considera fatores clínicos (com ou sem densitometria) para estimar a probabilidade de fratura. Pacientes classificados como alto ou muito alto risco já têm indicação de tratamento”, diz o presidente da ABRASSO.

Não tem cura, mas tem tratamento

A osteoporose não tem cura, mas pode ser controlada e acompanhada, para minimizar ao máximo o risco de fraturas. As recomendações incluem a prática de exercícios físicos adequados, dieta rica em cálcio e suplementação de vitamina D. “Existem ainda medicamentos que inibem a atividade das células que reduzem o osso”, aponta Demange. Para o ortopedista, aliás, um dos maiores avanços da medicina em relação ao tratamento da osteoporose é o desenvolvimento de medicamentos modernos, como os chamados imunobiológicos, que podem ser usados em casos mais severos.

O Denosumabe, principal imunobiológico para osteoporose, é um anticorpo monoclonal, que bloqueia uma proteína específica, essencial na formação e ativação dos osteoclastos, que são as células que promovem a reabsorção óssea. O resultado é um aumento da densidade mineral, que torna os ossos mais fortes e resistentes a fraturas. “Além disso, a melhora da terapia hormonal para a mulher na menopausa, feita de uma maneira mais segura e eficaz, associada a uma dieta alimentar adequada, é um fator que ajuda bastante na redução da osteoporose”, destaca o médico.

Embora a perda óssea seja um fenômeno inerente ao envelhecimento, hoje, há mais conhecimento disponível sobre prevenção e sobre sinais importantes, que podem indicar a necessidade de uma avaliação e de um acompanhamento médico. Ter mais idade nem sempre significa ter menos força. O segredo é começar a valorizar e cuidar bem dos seus ossos o quanto antes.