5 razões para largar o vape (além do câncer)

Cigarros eletrônicos estão associados ao risco de doenças como fibrose pulmonar, bronquiolite e até perda dos dentes

Homem fuma vape
Foto: Freepik

Quando o assunto é campanha contra o tabagismo, o Brasil é considerado um país referência pelas medidas e políticas de controle do cigarro. Agora, o desafio ressurge com o crescimento do uso de cigarros eletrônicos, especialmente entre jovens.

Aproximadamente 11 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais já fizeram uso de pelo menos um tipo de dispositivo eletrônico para fumar (DEFs), o que inclui os chamados vapes, pods, juuls e cigarro eletrônico, segundo dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad).

Esses dispositivos são igualmente ou até mais prejudiciais à saúde que os cigarros tradicionais. Já está mais que comprovada a relação entre os cigarros eletrônicos e o maior risco de desenvolver câncer de pulmão, por exemplo. Mas além do câncer, existem muitas outras consequências do uso dos DEFs para a saúde.

A juventude não tem noção do perigo a qual eles estão expostos. Muitos acham que é apenas vapor, mas é um dispositivo extremamente prejudicial e viciante”, afirma a pneumologista Elnara Negri, pesquisadora dos laboratórios de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro do Núcleo Avançado de Tórax do Hospital Sírio-Libanês. Entenda a seguir, os principais riscos.

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  1. O vape é proibido por lei no Brasil

Para começar, vale lembrar que a comercialização, importação e propaganda dos cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil desde 2009. Os dispositivos são fáceis de encontrar à venda. O fato de não serem regulamentados significa que também não são fiscalizados em relação à sua composição. Ou seja, quem compra e usa não tem como saber o que está consumindo.

Além da nicotina, você encontra nos cigarros eletrônicos metais pesados e compostos químicos como formaldeído, acetaldeído e nitritos, que são substâncias com potencial de provocar câncer e outros tipos de lesões”, alerta a pneumologista Maria Enedina Scuarcialupi, coordenadora da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Diversos estudos, feitos no Brasil e em outras partes do mundo, já encontraram também solventes, aromatizantes, realçadores de sabor, cannabis e até anfetamina nos cigarros eletrônicos.

  1. Pode viciar mais rápido do que o cigarro tradicional

Em outubro deste ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) fez um alerta: a população mundial está fumando menos, mas a epidemia do tabaco está longe de terminar. Isso porque, embora o consumo de tabaco tenha caído 27% desde 2010, os cigarros eletrônicos estão alimentando uma nova onda de vício em nicotina.

Um estudo feito em 2024 pelo Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo, mostrou que os níveis de nicotina nos usuários de cigarro eletrônico podem ser até seis vezes maiores que os encontrados em fumantes de cigarro convencional.

Um dos motivos por trás dessa dependência pode estar na formulação dos dispositivos, como explica a médica do hospital Sírio-Libanês, Elnara Negri: “O sal de nicotina, usado nos líquidos para vape, é uma mistura entre nicotina e um ácido. Essa substância entra no cérebro dez vezes mais rápido no cérebro do que a nicotina convencional, tornando o usuário dependente muito rapidamente”.

  1. Faz mal ao pulmão e ao coração

Como já dito, não é só câncer: o uso dos cigarros eletrônicos está associado a outros tipos de lesão no pulmão. Entre eles está a Evali, uma doença específica relacionada ao uso dos dispositivos que começou a surgir em 2019, nos Estados Unidos, e neste ano, entrou para os registros oficiais de mortalidade no Brasil. Em tradução para o português, a sigla corresponde a Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico. Os sintomas são tosse, falta de ar, dor torácica, febre, dor abdominal e vômitos.

A Evali é causada principalmente pelos cigarros eletrônicos que contém vitamina E, que não pode ser inalada”, explica a pneumologista Maria Enedina Scuarcialupi, da SBPT. “Quando ela é respirada, provoca lesões inflamatórias e uma infecção respiratória aguda e progressiva, que pode até mesmo levar à morte”, acrescenta a médica.

Outra consequência grave da Evali é a fibrose pulmonar, que acontece quando o pulmão tenta se recuperar das lesões e forma cicatrizes. Essas cicatrizes acabam enrijecendo o tecido, deixando o pulmão menos elástico e, consequentemente, dificultando a respiração e oxigenação do sangue.

Além da Evali, os cigarros eletrônicos também estão por trás de doenças como bronquite e bronquiolite, ou seja, inflamações nos brônquios e bronquíolos do pulmão, respectivamente. “Em ambas as inflamações, a pessoa tem dificuldade para respirar, chiados no pulmão, catarro e tosse frequentes”, ressalta a pneumologista Elnara Negri.

Um tipo raro e irreversível de bronquiolite, a bronquiolite obliterante, ficou conhecida popularmente como “pulmão de pipoca”. O apelido se deve ao diacetil, um composto orgânico utilizado na indústria alimentícia, especialmente em pipocas de micro-ondas, também presente em alguns DEFs. Quando aerossolizado e inalado, o diacetil se torna tóxico para o pulmão.

As substâncias presentes nos cigarros eletrônicos prejudicam ainda o coração e o sistema circulatório. A nicotina, por exemplo, aumenta a frequência cardíaca e o estreitamento dos vasos sanguíneos, podendo causar insuficiência cardíaca e hipertensão. Outras substâncias tóxicas desses dispositivos contribuem para a formação de placas de gordura e coágulos, aumentando as chances de infarto e AVC.

4. Os vapes causam problemas bucais

Os cigarros eletrônicos também estão associados a problemas bucais, como mostrou um estudo recente do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (ICT-Unesp).

Segundo os pesquisadores, os vapes alteram a composição da saliva dos usuários, aumentando os riscos de cáries, lesões da mucosa e doença periodontal – uma inflamação na gengiva e nos tecidos que sustentam o dente que pode causar sangramentos, mau hálito e em casos mais graves, até a perda dos dentes.

Além disso, já existem casos de explosão do vape na boca das pessoas. Teve gente que perdeu dentes e teve ferimentos e queimaduras nos lábios”, alerta a pneumologista do Sírio-Libanês.

5. Custa caro (para você e para o SUS)

Como os dispositivos eletrônicos para fumar não são regulamentados no Brasil, não há estimativas oficiais do preço médio. Em mercados clandestinos, eles podem ser encontrados por entre R$ 70 e R$ 1.200.

Recentemente, a jovem Laura Beatriz, de 27 anos, que se tornou influencer para combater o uso de vapes após ter um diagnóstico de câncer, contou em entrevista a IstoÉ que, em quatro anos de uso de pods, ela gastou cerca de R$ 10 mil nos dispositivos.

O que se sabe, de dados oficiais, é que o custo é alto não só para os fumantes, mas também para a saúde pública: para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o Governo Federal gasta R$ 5 com doenças causadas pelo fumo. Essa é a conclusão de um estudo do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apresentado em maio, como parte da campanha do Dia Mundial Sem Tabaco 2025, cujo foco foram os cigarros eletrônicos.