Alho: o tempero aliado da saúde cardiovascular e do controle da pressão arterial

Mesmo com sabor marcante, produto conquista espaço também na ciência

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Foto: Envato

Há um tempero de sabor marcante que divide opiniões à mesa, mas une a ciência em um ponto: o alho é um verdadeiro aliado da saúde. Consumido há mais de seis mil anos e valorizado até pela medicina chinesa tradicional, ele se destaca não apenas pelo aroma característico, mas também pelas propriedades que fazem dele uma especiaria funcional.

Embora contenha pequenas quantidades de potássio, fósforo e selênio, o alho não é uma fonte expressiva de minerais ou vitaminas. Seu real diferencial está na presença de compostos bioativos sulfurados, como a alicina, o dialisulfeto e o ajoeno — fitoquímicos com ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana. Esses compostos são liberados quando o dente é cortado ou amassado e são responsáveis tanto pelo aroma intenso quanto por boa parte dos efeitos fisiológicos documentados em pesquisas.

Diversas revisões científicas e ensaios clínicos mostram que o consumo regular de alho pode trazer benefícios à saúde cardiovascular. Um estudo da University of Adelaide, na Austrália, revisou 12 ensaios clínicos e observou que o uso diário de extrato de alho envelhecido foi capaz de reduzir a pressão arterial sistólica em até 8 mmHg — efeito comparável ao de alguns medicamentos usados no tratamento da hipertensão leve (Integrated Blood Pressure Control, 2016).

Outro trabalho, publicado na revista Nutrients (2023), analisou mais de 2 000 estudos e apontou que o alho contribui para melhorar o controle da glicemia, reduzir o colesterol total e o LDL e modular fatores de risco metabólicos. Contudo, os efeitos variam conforme o tipo de preparo — cru, cozido, em óleo ou cápsula —, e os próprios autores reforçam que ele não substitui terapias médicas.

Há ainda investigações sobre o possível papel do alho na prevenção de cânceres do sistema digestivo, como estômago e cólon. As hipóteses giram em torno de sua ação antioxidante e da capacidade de reduzir mutações celulares associadas ao estresse oxidativo. Apesar de promissores, esses achados ainda não são conclusivos e exigem estudos clínicos mais robustos.

Embora os resultados sejam animadores, o alho não é uma solução milagrosa. Seus efeitos dependem de frequência, contexto alimentar e hábitos de vida. Isoladamente, ele não tem poder de prevenir nem de tratar doenças crônicas. O que a ciência mostra é que o consumo regular do alimento, dentro de um padrão alimentar equilibrado, aliado à atividade física e sono adequado, pode contribuir para o bom funcionamento do coração, do sistema imunológico e do metabolismo.

Democrático, acessível e cheio de história, o alho segue como um dos temperos mais valiosos da cozinha natural — uma lembrança de que, na saúde, as pequenas escolhas diárias podem fazer a diferença.