A detecção precoce é a principal arma da medicina contra o câncer, mas barreiras que vão muito além da disponibilidade de equipamentos estão impedindo que ela aconteça. Um novo estudo divulgado pela Agência Fapesp aponta que sentimentos como medo, dor e vergonha, somados a profundas desigualdades sociais, são os principais fatores que afastam as mulheres do rastreamento do câncer de colo do útero e de mama no Brasil.
O estudo: pesquisadores identificaram que barreiras subjetivas (psicológicas) têm peso determinante na não realização de exames;
Os motivos: o medo do diagnóstico, o receio da dor física durante o procedimento e a vergonha da exposição do corpo são citados frequentemente;
Desigualdade: mulheres em situação de vulnerabilidade social enfrentam obstáculos adicionais de acesso e informação;
Consequência: o atraso nos exames leva a diagnósticos tardios, reduzindo drasticamente as chances de cura.
A pesquisa lança luz sobre a complexidade do cuidado com a saúde feminina. Embora campanhas como o Outubro Rosa enfatizem a importância da mamografia e do exame citopatológico (Papanicolau), a adesão esbarra em questões culturais e emocionais que muitas vezes são invisibilizadas no atendimento clínico padrão.
Barreiras invisíveis
Segundo o levantamento, o desconforto físico — real ou imaginado — associado aos exames é um forte inibidor. No caso da mamografia, a compressão da mama gera temor de dor. Já no exame preventivo do colo do útero, a posição ginecológica e a introdução do espéculo despertam sentimentos de vulnerabilidade e constrangimento em muitas pacientes.
Além do aspecto físico, há o “medo do que vai encontrar”. O estigma de que o câncer é uma sentença de morte paralisa muitas mulheres, que preferem evitar o exame a enfrentar um possível resultado positivo.
O peso da desigualdade
O estudo reforça que esses sentimentos não ocorrem no vácuo. Eles são potencializados pela desigualdade social. Mulheres com menor escolaridade e renda, ou que dependem exclusivamente do sistema público em áreas com menor cobertura, tendem a realizar os exames com menos frequência.
A falta de informação qualificada e o atendimento por vezes desumanizado nos serviços de saúde contribuem para que a experiência do exame seja traumática, desestimulando o retorno periódico.
Humanização é a chave
Para especialistas, os dados indicam a urgência de repensar as políticas públicas de rastreamento. Não basta apenas ofertar o exame; é necessário acolher. Estratégias que envolvam a humanização do atendimento, a explicação clara e empática sobre os procedimentos e a garantia de um ambiente seguro e privativo são fundamentais para quebrar as barreiras do medo e da vergonha.
O câncer de mama e o de colo do útero estão entre as principais causas de morte por doença entre mulheres no país, mas apresentam altas taxas de cura quando identificados em estágios iniciais.