Pela primeira vez na história das COPs, o evento promoveu um dia todo voltado para saúde e clima na COP30, que aconteceu nesta quinta (13), em Belém (PA). Entre as atividades que marcaram o chamado “Dia da Saúde” na COP, o destaque foi o lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém. O documento é o primeiro plano internacional de adaptação climática dedicado exclusivamente à saúde, com ações concretas para que os países possam preparar os seus sistemas de saúde e responder aos efeitos das mudanças climáticas na saúde das populações do mundo todo, principalmente as mais vulneráveis.
A proposta representa um marco da COP30 e reforça o protagonismo do Brasil na agenda global de saúde e clima. Elaborado como um plano aberto à adesão voluntária de países, organizações internacionais e à colaboração da sociedade civil, academia, setor privado e filantropias, o documento se consolida como a principal contribuição do setor de saúde para o esforço global que busca preparar o mundo para os desafios climáticos já em curso.
Durante o evento, também foi anunciado um investimento de US$ 300 milhões, por meio de Filantropias Globais, para apoiar a implementação do Plano de Ação de Saúde de Belém e impulsionar ações de adaptação frente aos efeitos das mudanças climáticas na saúde. O foco imediato dos recursos será acelerar soluções, inovações, políticas e pesquisas relacionadas ao calor extremo, poluição do ar e doenças infecciosas sensíveis ao clima.
Populações vulneráveis são as maiores vítimas da crise climática
De acordo com Lancet Countdown 2025, relatório sobre saúde e mudanças climáticas produzido por 128 especialistas de 71 instituições, incluindo a ONU, 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperatura média 1,55°C acima dos níveis pré-industriais. As consequências se refletem diretamente na saúde: com o aumento da temperatura, cresce o número de doenças respiratórias, arboviroses e até mesmo transtornos mentais relacionados direta ou indiretamente ao aquecimento global.
E, embora os extremos de temperatura afetem a todos, alguns grupos populacionais são mais vulneráveis a seus impactos. Uma pesquisa publicada no Plos One, em 2024, sob coordenação da UFRJ, revelou que cerca de 48 mil brasileiros morreram por consequência de ondas de calor entre 2000 e 2018 – entre elas, as pessoas pardas, pretas e menos escolarizadas foram consideradas mais suscetíveis.
Mas os números podem crescer ainda mais, como alertou a economista Esther Duflo, prêmio Nobel de Economia de 2019, em um dos eventos do Dia da Saúde da COP. “Até o final do século, haverá mais 6 milhões de mortes adicionais devido ao clima”, afirmou a professor do MIT ao jornal Valor Econômico. “Não estou considerando os desastres climáticos, apenas as ondas de calor. E esses 6 milhões estarão todos em países pobres”, completou.
Saúde, clima e justiça social são pautas interligadas
Diante deste cenário, autoridades públicas e privadas ligadas ao setor aproveitaram o Dia da Saúde na COP para reforçar a mensagem de que saúde, clima e justiça social são pautas interligadas.
“Devemos nos preocupar com o meio ambiente da mesma forma que cuidamos do nosso corpo. Isso diz respeito à qualidade do que consumimos, a perspectiva de longevidade que esse cuidado vai nos trazer, e o impacto dessas escolhas para a sustentabilidade do planeta”, afirma Fabiano Zettel, fundador da Moriah, veículo de investimento dedicado ao mercado de saudabilidade e bem-estar. Zettel fez parte da rodada de palestras e debates de lideranças empresariais convidadas para falar na COP30 no Dia da Saúde.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, Belém se torna um símbolo de um novo paradigma: cuidar da saúde é também cuidar do planeta. “É a ciência, a solidariedade e a ação coletiva que nos permitirão construir um futuro mais justo e saudável para todos”, afirmou Padilha, no evento de lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém. O desafio agora será transformar compromissos em ações concretas capazes de reduzir desigualdades e garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos.