ENAH: entenda a doença silenciosa do fígado que se espalha pelo mundo

Imagem ilustrativa de fígado humano
Foto: Freepik

Uma pressão incômoda no abdômen, cansaço constante e sensação de inchaço após refeições podem ser mais do que reflexos do estresse: podem ser sinais de uma doença silenciosa que avança globalmente, a esteato-hepatite não alcoólica (ENAH), também conhecida pela sigla em inglês NASH. A inflamação do fígado causada pelo acúmulo de gordura, diretamente ligada ao estilo de vida moderno, está se tornando uma das doenças mais subestimadas do nosso tempo. Especialistas alertam que o aumento acelerado de casos já representa uma pressão crescente sobre os sistemas de saúde em todo o mundo.

  • O que é: a ENAH (ou NASH) é a forma agressiva da doença hepática gordurosa não alcoólica (fígado gorduroso), caracterizada por inflamação crônica.
  • O perigo: é uma doença silenciosa. A progressão para estágios graves como fibrose e cirrose ocorre sem sintomas claros, levando a um diagnóstico tardio.
  • Causas: o principal gatilho é o estilo de vida, incluindo dieta inadequada (rica em açúcar e gordura), sedentarismo, obesidade e diabetes tipo 2.
  • Tratamento: a principal abordagem não é medicamentosa, mas sim a mudança de hábitos, com dieta equilibrada, prática de exercícios e perda de peso.

A progressão silenciosa para a cirrose

A esteato-hepatite não alcoólica se desenvolve quando o depósito de gordura no fígado desencadeia um processo de inflamação crônica. Com o tempo, esse dano contínuo leva à morte de células hepáticas. O órgão tenta se reparar, mas substitui as células funcionais por tecido conjuntivo, um processo chamado de fibrose. Na fase inicial, essa cicatrização não causa sintomas, mas, à medida que avança, compromete o fluxo sanguíneo e as funções vitais do fígado. O estágio final é a cirrose, quando o órgão encolhe, endurece e perde sua capacidade funcional, o que pode levar a complicações graves como insuficiência hepática e câncer.

Diagnóstico tardio é o principal desafio

O grande problema da ENAH é que seus sinais iniciais — como fadiga, leve pressão abdominal ou ganho de peso — são vagos e frequentemente atribuídos a outras causas. Muitas vezes, a condição só é suspeitada quando exames de rotina revelam enzimas hepáticas elevadas. Exames de imagem, como o ultrassom, podem avaliar o estado do fígado, mas o diagnóstico definitivo costuma exigir uma biópsia. Como resultado, a doença é frequentemente descoberta em estágio avançado, quando o dano hepático já é severo.

Estilo de vida como causa central

A ENAH está fortemente associada ao sobrepeso, afetando de 70% a 80% dos pacientes obesos. Comorbidades como diabetes tipo 2 e hipertensão são comuns. A principal causa reside na combinação de má alimentação, especialmente o consumo excessivo de calorias, açúcar e gordura saturada, com a falta de exercício físico. Esse padrão promove a resistência à insulina, fazendo com que o corpo armazene gordura nas células do fígado. Pessoas magras com alto percentual de gordura corporal ou predisposição genética também estão em risco.

Um desafio de saúde global

A incidência da ENAH está crescendo em todo o mundo. Nos Estados Unidos, estima-se que até 6,5% dos adultos sejam afetados. Na Europa, os números variam de 6% a 18%. Em países emergentes como a Índia, e também na América Latina, as taxas de incidência são igualmente preocupantes, superando os 12% em algumas populações. O avanço da doença acompanha o aumento global da obesidade e do diabetes.

Tratamento focado na mudança de hábitos

Atualmente, não há um medicamento específico para a ENAH. O tratamento se concentra na mudança radical do estilo de vida. Recomenda-se uma dieta rica em fibras, com baixo teor de açúcar e gordura, associada à prática regular de exercícios físicos para promover a perda de peso. Estratégias como o jejum intermitente também têm sido estudadas como auxiliares na redução da gordura hepática e na prevenção da progressão da doença.