Mais da metade dos brasileiros nunca foi ao dermatologista, revela estudo

Mulheres, pessoas brancas e de classes mais altas fazem parte dos grupos com mais acesso a esse tipo de especialidade médica

Médica dermatologista examina paciente
Médica dermatologista examina paciente Foto: Freepik

Você já foi ao dermatologista? Se a sua resposta foi não, saiba que você não está sozinho. 54% dos brasileiros nunca consultaram esse tipo de especialista, segundo um novo levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), feito em parceria com a divisão de Beleza Dermatológica do Grupo L’Oréal no Brasil.

A pesquisa intitulada “Dossiê Brasil à Flor da Pele” foi conduzida pelo Instituto Datafolha em junho deste ano e divulgada em outubro. O levantamento contou com 2.008 participantes de 136 municípios brasileiros, todos com 16 anos ou mais. A seguir, confira os principais resultados.

Acesso varia conforme a classe social

O cuidado com a pele vai além da estética, mas envolve também a prevenção, o diagnóstico e o tratamento do maior órgão do corpo humano. E, segundo o levantamento da SBD, os brasileiros reconhecem isso, mas a atenção ainda não se traduziu para cuidados com especialistas.

Enquanto a maioria das pessoas (86%) reconhecem que os problemas de pele não se resolvem sozinhos e 63% sabem que devem procurar um dermatologista diante de algum problema dessa natureza, poucos realmente buscam ajuda profissional. Apenas 12% dos brasileiros foram ao médico dermatologista no último ano. Quando questionados sobre a visita ao dermatologista alguma vez na vida, menos da metade (46%) dos entrevistados declarou já ter feito alguma consulta.

O que está por trás dessa contradição? A resposta pode estar nos desafios de inclusão e acesso ao profissional, que varia dependendo do gênero, classe social e cor da pele. 55% das mulheres já foram ao dermatologista ao menos uma vez na vida, contra 37% dos homens. Os dados também mostram que 58% das pessoas brancas já foram a uma consulta, contra 41% das pessoas negras.

A renda também influencia nesse caso, como era de se esperar. As classes mais altas, A e B, representam o grupo que teve mais acesso ao dermatologista (69% e 66% já foram ao especialista ao menos uma vez na vida, respectivamente), em comparação com as classes C e D/E (46% e 32%).

Em entrevista à IstoÉ, o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Carlos Barcaui, afirmou reconhecer tais disparidades. “A SBD vai reforçar, junto às autoridades de saúde e parceiros institucionais, iniciativas que ampliem o acesso da população à dermatologia, especialmente nas regiões mais vulneráveis e entre grupos historicamente subatendidos, como homens, jovens, pessoas negras e classes D/E”, ressalta.

Qual o papel do dermatologista?

Além do acesso, há ainda outra lacuna a ser superada: o reconhecimento da formação e qualificação do dermatologista. O estudo mostrou que um em cada quatro brasileiros não sabe que o dermatologista é um médico, podendo confundir o especialista com outros ofícios como biomédicos, enfermeiros ou esteticistas.

Entre as pessoas que buscam informações sobre cuidados com a pele, produtos e procedimentos, a maioria faz isso pela internet: 19% recorrem às redes sociais e criadores de conteúdo, 9% ao YouTube e 13% buscam no Google e em sites médicos.

Segundo o especialista da SBD, essa falta de conhecimento sobre o dermatologista e baixa procura pelo profissional pode trazer riscos à saúde, como atraso no diagnóstico e no tratamento, automedicação e uso indiscriminado de produtos e perpetuação de estigmas e desinformação.

Cuidados com a pele

Apesar dos desafios mencionados acima, como o acesso e reconhecimento do profissional, o Dossiê da SBD mostrou que os brasileiros se preocupam, sim, com os cuidados da pele.

Entre os motivos para fazê-lo, a autoestima é o fator mais comum entre jovens, enquanto a prevenção de doenças vai crescendo à medida que a idade avança.

Independentemente da motivação, quase metade da população tem algum tipo de atenção com a pele: 20% dos entrevistados realizam uma rotina diária de cuidado e 29% usam produtos básicos, como sabonete e protetor solar.

A SBD lembra, ainda, que o uso do bloqueador solar é um dos principais meios de evitar o envelhecimento precoce, queimaduras e reduzir os riscos de desenvolvimento do câncer de pele, o tipo mais frequente da doença no Brasil.