Gripe K: o que já sabemos sobre o vírus e o que ainda falta descobrir

Ministério da Saúde confirmou a chegada da doença ao país. Presidente da SBIm ressalta que não há motivo para alarde

Gripe K
Foto: Pexels

O Ministério da Saúde confirmou a identificação do subclado K da Influenza A (H3N2), conhecido como “gripe K”, em amostras examinadas no estado do Pará. A confirmação está registrada no Informe de Vigilância das Síndromes Gripais da Semana Epidemiológica 49, publicado em 12 de dezembro. Recentemente, o vírus entrou no radar da Organização Mundial da Saúde (OMS), que emitiu um alerta global em virtude do aumento de casos de gripe K na Europa e na Ásia, com circulação do vírus acima do esperado em partes do hemisfério norte.

Esse tipo de comunicado da OMS tem o objetivo de intensificar tanto a vacinação quanto a vigilância epidemiológica, para que os sistemas de saúde possam se preparar para a próxima temporada de gripe. O que também implica, por exemplo, em organizar os estoques de imunizantes e medicamentos. Não há motivo para alarde, no entanto”, afirma a pediatra Mônica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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O que é a gripe K

O influenza, vírus causador da gripe, é dividido em quatro grupos: A, B, C e D. A influenza A, por sua vez, é categorizada em dois subtipos, o H1N1 (responsável pela pandemia de gripe suína em 2009) e o H3N2. Esses subtipos também podem sofrer mais variações genéticas. A gripe K tem origem em uma subdivisão (isto é, subclado) do H3N2. Por isso, embora seu “nome completo” seja influenza A (H3N2) subclado K, ela ganhou o “apelido” de gripe K.

Ainda que o vírus tenha sofrido mutações, ele vem do H3N2, um ancestral já conhecido. Uma das características que chamou a atenção sobre esse vírus, no entanto, foi a maior capacidade de transmissão e a antecipação da sazonalidade da gripe no hemisfério norte, cerca de cinco semanas antes da ‘virada do tempo’”, explica Mônica Levi, da SBIm.

Tanto essa capacidade de transmissão quanto a antecipação da temporada de gripe, de acordo com a especialista, deve gerar um maior número de casos, de internações e também de óbitos. “Como teremos numericamente mais casos, espera-se também sobrecarga do sistema de saúde. Até o momento, no entanto, é importante destacar que não existe nenhuma evidência que comprove que a gripe K seja mais grave, em comparação à gripe comum”, completa a especialista.

Sintomas

Até o momento, os sintomas identificados são semelhantes aos de uma gripe comum, ou seja:

  • febre;

  • coriza;

  • tosse;

  • dor de cabeça

  • dor de garganta;

  • congestão nasal;

  • mal-estar.

Crianças podem sofrer ainda com vômitos e diarreia e, pessoas com comorbidades, podem ter falta de ar.

Como é transmitido o vírus

O vírus da influenza A (H3N2) subclado K também é transmitido da mesma forma que os demais vírus da influenza, ou seja, principalmente por contato com secreções respiratórias. Entre as principais formas de transmissão estão: tosse, espirros ou fala (por meio de gotículas respiratórias, que podem ser inaladas por outras pessoas).

Além disso, a transmissão pode ocorrer por contato direto, como um aperto de mão com uma pessoa infectada, por exemplo. Nesse caso, o vírus também pode ser passado adiante se a pessoa levar as mãos aos olhos, nariz ou boca. Da mesma forma, o vírus pode permanecer por algum tempo em objetos e superfícies.

Vacina como proteção

O período de transmissão é de até sete dias depois do início dos sintomas. Por isso, é preciso estar atento às medidas de prevenção:

  • higienização das mãos;

  • cobrir o rosto ao tossir ou espirrar;

  • usar máscara em caso de sintomas;

  • vacinação.

De acordo com a pediatra Mônica Levi, da SBIM, ainda que não exista uma vacina específica para a gripe K, a vacina contra a gripe comum também tem um fator de proteção. “Os vírus não são os mesmos, mas digamos que sejam ‘primos’ um do outro. Sendo assim, tal qual acontece com a vacina de covid, a pessoa vacina terá menos sintomas e menor chance de internação, caso seja infectada”, compara a especialista.

O patologista Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico, também ressalta a importância da imunização com a chegada da gripe K ao país. “O cenário reforça a importância das medidas de prevenção, principalmente a vacinação. Como a vacina muda todos os anos, a imunização anual ainda torna-se ainda mais relevante, especialmente para os grupos com maior risco de complicações (como crianças, idosos e pessoas com comorbidades)”, afirma Helio Magarinos Torres Filho.

O que ainda não sabemos

A diretora da SBIm, Mônica Levi, reforça que, apesar da antecipação da temporada de gripe no hemisfério norte, não há como saber com certeza a maneira que o vírus irá se comportar no Brasil. “O que caracteriza a influenza é a imprevisibilidade. Ainda hoje, o vírus surpreende e desafia a ciência. Essa oscilação acontece com frequência, temos anos piores e outros, melhores”, finaliza. A boa notícia, segundo a especialista, é que o país tem um sistema de vigilância epidemiológica robusto, capaz de identificar novos casos com a rapidez necessária, assim como vacinas disponíveis.

Os especialistas reforçam que a orientação à população é manter a calma, ficar atenta aos sintomas e buscar atendimento médico em caso de agravamento do quadro, especialmente entre os grupos mais vulneráveis. A recomendação é manter a vacinação em dia e adotar medidas simples de prevenção no dia a dia, que seguem sendo as principais aliadas para reduzir a circulação do vírus e evitar complicações enquanto as autoridades de saúde monitoram a evolução da gripe K no país.