Que uma boa noite de sono é essencial para descansar, todos sabem. E é normal que dormir seja a principal escolha para restaurar o corpo e a mente, afinal, é um hábito que regula as funções básicas do organismo, melhora o foco e a concentração, fortalece o sistema imunológico e regula os hormônios.
Mas além do sono, existem também outras formas importantes de relaxamento. Exercícios físicos, atividades criativas, caminhadas, pausas e até mesmo conversar entre amigos podem ser formas de descanso, como explica a psicóloga Renata Koizumi, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP). “O descansar não precisa ser necessariamente o dormir, mas é aquele momento de desligar a mente para o mundo e olhar para si”, afirma.
E esse momento pode se traduzir de diferentes maneiras, dependendo da rotina, tipo de trabalho e disponibilidade de cada pessoa. “Uma pessoa que trabalha diante de telas, por exemplo, pode encontrar maneiras de descansar meditando, ouvindo música ou caminhando ao ar livre. A escolha é muito individual”, explica a especialista.
A importância de descansar
Um levantamento do Instituto Ipsos, realizado a pedido do Nubank, mostrou que os brasileiros dedicam apenas 26% da vida adulta ao tempo livre. Isso equivale a cerca de 15 anos. O estudo também ressaltou que as mulheres dispõem de ainda menos tempo para si, já que muitas enfrentam a dupla jornada entre o trabalho e as responsabilidades domésticas.
Embora pareça óbvio, esses dados mostram que muitas vezes é necessário ressaltar a importância do descanso, para o corpo e a mente. Só para citar um exemplo, de acordo com um experimento publicado na revista científica Cell Reports, fazer pequenos intervalos durante uma atividade pode melhorar o aprendizado.
Os sete tipos de descanso
A médica e pesquisadora norte-americana Saundra Dalton-Smith, ficou conhecida por propor a existência de pelo menos sete deles no livro “Sacred Rest” (“Descanso Sagrado”, em tradução livre): o descanso físico, mental, sensorial, criativo, emocional, social e espiritual.
Na hora de escolher um tipo de descanso, ou um mix deles, é importante testar o que funciona melhor dentro de cada rotina e estilo de vida. “É preciso encontrar uma atividade que seja prazerosa e que a leve para esse lugar de descanso”, sugere a psicóloga Renata Koizumi.
Um estudo recente publicado pela Harvard Business Review mostrou que praticar atividades prazerosas no tempo livre pode ajudar a recarregar o corpo, assim como o sono, resultando em bem-estar e um desempenho melhor no trabalho. Os pesquisadores sugerem atividades feitas intencionalmente para fortalecer conexões sociais, melhorar habilidades ou ajudar a definir metas individuais.
Entenda, a seguir, os principais tipos de descanso, de acordo com a proposta de Dalton-Smith, com exemplos de atividades que podem trazer benefícios para a saúde mental e física.
Descanso Físico
O descanso físico, para relaxar o corpo, é um dos principais tipos de descanso e pode ser ativo ou passivo. Dormir com qualidade, com sono entre 7 e 10 horas, é um exemplo de descanso físico passivo.
Existe também o descanso físico ativo, que pode se traduzir em atividades como ioga, massagens, alongamentos, levantamento de peso, andar de bicicleta ou praticar esportes.
“Os exercícios funcionam como descanso porque é uma descarga de energia, as pessoas desligam do mundo e concentram no exercício, se sentem aliviadas”, explica o médico do sono Sérgio Barros Vieira.
Descanso Mental
O descanso mental pode ser aplicado independentemente da rotina ou tipo de profissão de cada pessoa, por meio de pequenas pausas durante o dia.
“Estamos em uma sociedade que vive de desempenho de produtividade constante e por isso precisamos treinar essa capacidade de parar, seja 5, 10 minutos para tomar um café, uma água, desligar o celular e diminuir o ritmo. Isso também é uma forma de descanso”, exemplifica a psicóloga Renata Koizumi, da SBP.
Descanso Sensorial
O descanso sensorial consiste em desligar e se afastar dos estímulos visuais e sonoros como telas, luzes, barulhos e notificações. Isso pode se manifestar em momentos de silêncio, longe do celular, claro.
Esse tipo de atividade pode beneficiar especialmente pessoas que trabalham com atendimento ou tecnologia, por exemplo.
Vale lembrar, que desligar as telas antes de dormir também é fundamental para ter um sono com mais qualidade, como alerta o médico do sono Sérgio Vieira: “olhar o celular ou televisão antes de dormir atrasa o início do sono profundo, a pessoa não descansa”. Ao invés do celular, ele recomenda outras atividades simples antes de dormir, como ler um livro.
Descanso criativo
O descanso criativo pode ser praticado com atividades manuais que estimulam a criatividade, como pintura, desenho ou colagem, ou admirando algo que inspire esse senso criativo em caminhadas ao ar livre.
Um exemplo do descanso criativo atual foi o viral movimento dos livros de colorir, conhecidos por “Bobbie Goods”. “Os livros de colorir são muito usados como atividade terapêutica porque fazem com que as pessoas saiam das telas e fiquem horas imersas ali, descansando a mente”, exemplifica Renata.
Descanso emocional
O descanso emocional pode ser praticado em certos momentos do dia para expressar seus sentimentos ou refletir. Fazer terapia, escrever um diário ou conversar com um amigo ou parceiro são bons exemplos desse tipo de descanso. “É um momento para se reconectar consigo mesmo”, acredita a psicóloga Renata.
Descanso social
O descanso social pode ser praticado estando presente com pessoas que te fazem bem, como familiares, parceiros e amigos, ou estando sozinho, dependendo da rotina ou necessidade. O tempo sozinho pode ser em um momento de autocuidado, como exemplifica a psicóloga: “tomar um banho relaxante ou fazer as unhas, também são uma forma de descanso. Você está ali olhando para você, se conectando com você, olhando para suas necessidades internas”.
Descanso espiritual
O descanso espiritual, por sua vez, acontece quando a pessoa se conecta com algo que ela considera maior ou profundo. Pode ser praticado em rituais, celebrações religiosas, meditações.
Mas também pode ser vivenciado em contato com a natureza, uma vez que ficar ao ar livre promove a sensação de relaxamento e bem-estar. O que vale para todas as idades, aliás. Uma pesquisa recente publicada no JAMA Network Open, que acompanhou mais de 2 mil crianças norte-americanas entre 2 e 5 anos, mostrou que aquelas que vivem próximas a áreas verdes apresentam níveis significativamente menores de ansiedade e tristeza.
Resumindo, descansar vai muito além de dormir: é um gesto de autocuidado que envolve corpo, mente e alma. Afinal, em meio a uma rotina acelerada, dar-se o direito de parar, respirar e reconectar-se pode ser o verdadeiro segredo para viver com mais equilíbrio e presença.