Pesquisadores da USP desvendam como a atividade física fortalece a imunidade

A adrenalina, liberada durante o exercício, se conecta a receptores nas células-tronco hematopoiéticas, provocando uma "memória" que resulta em uma resposta imune mais equilibrada

Praticantes de ioga se exercitam ao ar livre
Foto: Freepik

A prática regular de exercícios físicos, especialmente os de resistência como corrida e ciclismo, pode “treinar” o sistema imunológico, tornando-o mais eficiente no combate a infecções e no controle de inflamações. A conclusão é de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicado na prestigiosa revista científica Nature, que desvendou os mecanismos pelos quais a atividade física modula as células de defesa do corpo.

  • O que a pesquisa descobriu: o exercício físico altera o funcionamento das células-tronco na medula óssea, “ensinando” as células de defesa a serem menos inflamatórias e mais eficazes.
  • O mecanismo: a adrenalina, liberada durante o exercício, se conecta a receptores nas células-tronco hematopoiéticas, provocando uma “memória” que resulta em uma resposta imune mais equilibrada
  • Implicações: a descoberta abre caminho para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas e reforça a importância do exercício como ferramenta de saúde pública para prevenir doenças inflamatórias crônicas.
  • Fonte: estudo liderado por pesquisadores da USP e apoiado pela Fapesp, publicado na revista Nature.

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A pesquisa, realizada no âmbito do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da Fapesp, focou nas células-tronco hematopoiéticas, localizadas na medula óssea e responsáveis por originar todas as células do sangue, incluindo as do sistema imunológico.

Os cientistas observaram que, durante a atividade física, a liberação do hormônio adrenalina ativa um receptor chamado beta-2 adrenérgico nessas células-tronco. Essa interação induz mudanças epigenéticas, ou seja, alterações que não modificam o DNA, mas que regulam a expressão dos genes. Como resultado, as células de defesa produzidas subsequentemente, como os macrófagos, passam a ter um perfil menos inflamatório.

“O estudo mostra, pela primeira vez, que o exercício físico é capaz de modular a célula-tronco hematopoiética, a mãe de todas as células do sistema imune. É como se o exercício deixasse uma memória nessas células”, explicou Fernando Cunha, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e coordenador do CRID, em entrevista à Agência Fapesp.

Essa “memória imune treinada” é benéfica porque uma resposta inflamatória exacerbada está na raiz de diversas doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, diabetes e distúrbios neurodegenerativos. Ao “educar” o sistema imune para ser mais contido, o exercício ajuda a prevenir essas condições.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores realizaram experimentos com camundongos. Um grupo de animais foi submetido a um treinamento de corrida em esteira por dez semanas, enquanto o outro permaneceu sedentário. Após o período, os cientistas induziram uma inflamação sistêmica em ambos os grupos e observaram que os animais treinados apresentaram uma resposta inflamatória muito mais branda.

A descoberta reforça o papel do exercício físico não apenas como uma atividade para manter a forma, mas como uma poderosa intervenção terapêutica capaz de reprogramar o sistema imunológico para um funcionamento mais saudável e equilibrado.