Saiba como evitar quedas na terceira idade

Levantamento feito na capital paulista mostra que 63% das pessoas idosas já caíram pelo menos uma vez

Casal de idosos desce escada
Foto: Freepik

A professora aposentada Eliane Schmaltz Ferreira, de 72 anos, sofreu várias quedas ao longo dos últimos seis anos. Uma delas foi no dia da festa de seu aniversário de 70 anos. “Caí e quebrei o punho. Fui para o pronto-socorro, onde enfaixaram meu braço, e segui para a festa”, recorda-se. Em outra ocasião, chegou a bater a cabeça e teve de ser internada. As quedas, segundo Eliane, são consequência de uma osteoporose grave, provocada pelos medicamentos que utilizou após um transplante de rim.

Casos como o de Eliane não são isolados e ajudam a ilustrar o quanto as quedas representam um problema de saúde pública na terceira idade. De acordo com uma pesquisa recente da Faculdade de Medicina de Itajubá, em parceria com o Centro Universitário Ages (BA), aproximadamente 63% dos idosos já sofreram alguma queda. Outro dado chamou a atenção dos pesquisadores: 90% dos participantes relataram ter medo de cair. Publicada na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a pesquisa contou com a participação de 400 idosos atendidos em uma Unidade Básica de Saúde da capital paulista.

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Ainda que esses dados sejam uma amostra de apenas uma parcela dessa faixa etária, a médica geriatra Rosmary Arias, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de SP (SBGG-SP), garante que as quedas são comuns em diferentes perfis de idosos – tanto homens quanto mulheres, de qualquer classe social. E embora o risco aumente progressivamente com a idade, também pode acontecer com idosos mais novos.

As pessoas idosas têm uma predisposição maior para quedas em virtude do próprio envelhecimento. Isso porque o organismo passa por diversas transformações, como o achatamento das vértebras, que muda o centro de gravidade. Também ocorre uma diminuição da rotação de quadril e da amplitude dos passos,”, explica Rosmary. Segundo a geriatra, tudo isso afeta a propriocepção, ou seja, a capacidade do corpo de perceber sua posição no espaço.

Esse não é o único motivo, porém. Somado ao envelhecimento natural, doenças crônicas (como diabetes e Parkinson), efeitos colaterais de medicamentos e problemas cardiovasculares (como hipotensão ortostática, que causa queda de pressão e tontura ao levantar) também ampliam as chances de uma pessoa idosa cair. Isso sem contar os fatores ambientais, dentro e fora de casa, de uma rua esburacada a uma sala com tapetes. “A combinação desses fatores aumenta muito o risco. Por isso, estudos e revisões atuais reforçam que a prevenção das quedas exige a abordagem desses pontos ao mesmo tempo”, ressalta o ortopedista cirurgião de mão e punho, Maurício Leite, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

Nada disso, entretanto, indica que as quedas são inevitáveis na terceira idade. Com alguns cuidados e ajustes, as pessoas idosas podem – e devem – circular com segurança. A seguir, especialistas dão dicas para viver com mais autonomia e confiança em cada passo.

Foco nos exercícios físicos

Os exercícios físicos reduzem o risco de quedas porque melhoram a força muscular, o equilíbrio e a mobilidade em geral. “Desta forma, quando o idoso é exposto a situações que poderiam causar um acidente, sua resposta motora é mais efetiva. Quando um jovem tropeça, por exemplo, ele consegue mudar o passo e controlar a postura para se colocar na posição ereta novamente”, explica o fisioterapeuta Jhonatan Carlos, especialista em fisioterapia geriátrica e gerontológica, autor do perfil @fisioparaidosos. “Como essa velocidade para responder aos estímulos pode diminuir com a idade, o exercício físico vem para contrapor essas perdas do envelhecimento”, completa.

Eliane, do início da reportagem, buscou a fisioterapia com esse objetivo, e não se arrependeu. “Foi um divisor de águas na minha vida. Junto com um novo tratamento para a osteoporose, ganhar força nas pernas e equilíbrio me ajudou a deixar a bengala. Já fiz até uma viagem sozinha, para São Paulo (SP), e tenho outra programada em breve para Goiânia (GO)”, relata a professora aposentada, que vive em Uberlândia (MG), faz fisioterapia cinco vezes por semana e não sofreu mais quedas nos últimos doze meses.

O ortopedista Maurício Leite lembra também da importância da supervisão de um ou mais profissionais na hora do idoso se exercitar – o que vale para qualquer idade, é claro. “A recomendação prática é: exercícios regulares, progressivos e dirigidos por profissional, como fisioterapeuta ou educador físico, sempre que possível”, orienta.

Como reduzir o perigo dentro de casa

A geriatra Rosmary Arias, da SBGG-SP, alerta que o banheiro é o cômodo onde as quedas domésticas acontecem com mais frequência. Medidas simples como instalar barras de apoio perto do vaso e dentro do box, além de usar tapete antiderrapante e manter o piso seco, são essenciais para reduzir o perigo nesse caso.

Também vale adaptar os demais ambientes da casa. Isso envolve eliminar tapetes soltos ou prendê-los, instalar corrimãos em escadas, deixar objetos essenciais acessíveis (para evitar subidas em bancos, por exemplo) e organizar a mobília de modo a deixar corredores livres de obstáculos. Outro ponto importante é a iluminação. “O ideal é ter um interruptor (ou abajur) ao lado da cama. Quando acordamos, apresentamos uma rigidez corporal natural, como se a musculatura precisasse despertar também. Se não for possível visualizar o caminho, a chance de queda aumenta”, exemplifica o fisioterapeuta Jhonatan Carlos.

Levantar-se rápido demais, aliás, também pode ser perigoso de modo geral, por favorecer a queda de pressão e, assim, causar vertigem, tontura, sensação de desmaio (lipotimia), visão turva e, em casos mais graves, até desmaio. Essa sensação ocorre porque a pressão arterial baixa reduz o fluxo sanguíneo e, consequentemente, o suprimento de oxigênio para o cérebro. Para minimizar o risco, o ortopedista Maurício Leite recomenda sentar à beira da cama por alguns instantes até sentir-se confiante antes de ficar em pé e buscar um apoio para as mãos ao levantar. “Se houver sensação frequente de tontura ao levantar, vale procurar avaliação médica: pode ser sinal de hipotensão ortostática ou problema cardíaco”, destaca.

Para sair na rua com segurança

A depressão é quatro vezes mais frequente em idosos que relatam se sentirem sozinhos. É o que mostrou uma pesquisa realizada pela Universidade de Campinas, em 2023. Diante deste cenário, sair para passear é fundamental para manter a saúde mental em dia. Mas os passeios fora de casa também precisam de ajustes.

O primeiro deles é usar calçados adequados, ou seja, bem ajustados ao pé e com solados baixos e antiderrapantes. As pessoas mais propensas a cair, segundo a geriatra Rosmary Arias, podem usar dispositivos de marcha, como bengalas ou andadores, desde que indicados corretamente por um especialista. Ter companhia para andar na rua também faz diferença, e nesse caso mais ainda. A presidente da SBGG-SP chama a atenção ainda para políticas públicas inclusivas. “Os governantes das cidades devem levar em consideração que a população está envelhecendo e, assim como acontece com outros grupos, como as pessoas com deficiência, precisa de ruas adequadas para circular com segurança”, argumenta.