Vai viajar nas férias? Não se esqueça de incluir vacinas no checklist de viagem

Aumento nos casos de sarampo no mundo reforça a importância de conferir a caderneta de vacinação. Veja quais doses tomar, de acordo com seu destino

Família entra em aeroporto carregando malas
Foto: Freepik

Passagens emitidas, hospedagem reservada, roteiro pronto. Na correria dos preparativos para as férias de dezembro e janeiro, há um item que não pode passar despercebido: o calendário de vacinação. Já conferiu se sua família está em dia com as imunizações? Praia, campo, interior do Brasil ou uma viagem internacional: independentemente do destino escolhido, é fundamental checar se é necessário tomar alguma dose de vacina antes de embarcar. Em período de férias, a concentração de pessoas aumenta, sobretudo nos locais turísticos. Com isso, intensifica-se também a circulação dos vírus, que encontram a oportunidade perfeita para se espalhar.

Viagens são uma via de mão dupla para a circulação de doenças”, explica a bióloga Patrícia Rosa Vanderborght, doutora em Biologia Molecular e Genética Humana pela Fiocruz. “O turista pode tanto levar o vírus para áreas vulneráveis quanto trazer a infecção de volta para casa, afinal ficamos expostos a ambientes, pessoas e agentes infecciosos que não fazem parte do nosso cotidiano. Se a caderneta não estiver em dia, a pessoa desprotegida pode se tornar um elo de transmissão”, acrescenta a especialista, que atua na área de gestão de imunização hospitalar.

Serviços de Medicina do Viajante e órgãos internacionais, como o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), recomendam que o planejamento vacinal comece de 4 a 6 semanas antes da viagem. Esse período é necessário para que o organismo produza resposta adequada e, quando preciso, permita completar esquemas com várias doses — caso das vacinas de hepatite, meningite e da tríplice viral, para quem ainda não tem duas doses registradas.

Isso significa que, para quem pretende viajar em dezembro e janeiro, agora é a última chamada para colocar a vacinação em dia. “Dependendo do histórico vacinal e do destino, pode ser necessário atualizar mais de uma vacina, emitir certificados internacionais e, em alguns casos, agendar doses adicionais. Deixar para a véspera da viagem é assumir um risco desnecessário”, reforça o patologista clínico Helio Magarinos Torres Filho, diretor do Richet Medicina & Diagnóstico e Richet Vacina.

A ameaça do sarampo

A recomendação ganha um peso ainda maior diante da piora global na circulação de sarampo. A doença, extremamente contagiosa, voltou a preocupar autoridades sanitárias e impactar diretamente quem viaja. A notícia mais recente veio do Canadá, que, após quase três décadas, perdeu o status de país livre de sarampo. Em novembro, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) confirmou que o país deixou de atender ao critério de eliminação da doença após mais de 12 meses de transmissão sustentada da mesma linhagem do vírus. Em 2025, já são mais de 5 mil casos registrados.

O efeito dominó foi imediato: como o Canadá integra o bloco das Américas, toda a região — que inclui América do Norte, Central, do Sul e Caribe — perdeu a classificação de área livre de sarampo. O cenário acende um alerta importante: apenas no último ano, houve um aumento de mais de 30 vezes no número de casos em comparação com 2024 nas Américas. Além disso, a cobertura da segunda dose da tríplice viral ficou em 79%, bem abaixo dos 95% recomendados para garantir a imunidade coletiva.

Um único caso pode infectar até nove em cada dez pessoas não imunizadas que tenham contato com o doente, especialmente em ambientes fechados e lotados, como aeroportos, filas de embarque e cabines de avião”, afirma Magarinos. Diante desse risco, o CDC passou a recomendar que todo viajante internacional seja vacinado contra o sarampo, independentemente do destino.

Para Vanderborght, o caso do Canadá reforça um ponto crucial: “Se até um país de alta renda, com sistema de saúde robusto como o Canadá, perdeu o status de eliminação do sarampo, isso mostra que ninguém está totalmente protegido sem vacina. O vírus aproveita qualquer brecha na cobertura vacinal, seja em comunidades específicas, seja em grupos que relaxaram com os reforços”.

Febre amarela: atenção ao prazo mínimo para emissão do certificado

Já na América do Sul, especialmente na região amazônica e outras áreas tropicais do continente, é preciso estar atento à febre amarela. Vale lembrar ainda que alguns países exigem comprovante de vacinação de viajantes vindos de locais de risco, como o Brasil.

O Ministério da Saúde orienta que a dose seja aplicada pelo menos 10 dias antes da viagem, prazo mínimo para que a proteção seja efetiva e para que o Certificado Internacional de Vacinação tenha validade no embarque. De modo geral, a Organização Mundial da Saúde recomenda uma única dose da vacina da febre amarela por toda a vida.

Calendário básico do viajante

A indicação sempre deve ser personalizada, mas alguns imunizantes são considerados essenciais para quem viaja:

Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
Garantir duas doses a partir de 12 meses para quem nasceu desde 1970. Nascidos antes disso podem precisar de uma dose ou comprovação de imunidade. Bebês de 6 a 11 meses que viajam a áreas de risco podem receber uma dose “zero”, que não substitui o esquema de rotina.

Febre amarela
Indicada para destinos com exigência ou risco de transmissão. Aplicar no mínimo 10 dias antes da viagem.

Hepatites A e B
Relevantes para quem viaja a locais com maior risco sanitário ou com maior exposição interpessoal. Geralmente, são necessárias três doses.

Meningites (meningocócica ACWY e, quando indicado, meningocócica B)
Importantes para adolescentes, jovens e adultos em intercâmbios, cruzeiros, grandes eventos ou alojamentos compartilhados.

Influenza e COVID-19
Especialmente recomendadas para grupos de risco e para viajantes que circulam por aeroportos, aviões e ambientes com grande aglomeração.

Difteria, tétano e coqueluche (dT ou dTpa)
Adultos devem manter os reforços em dia; viagens são uma oportunidade de atualizar o esquema.

Pólio
Avaliada conforme o destino, principalmente em áreas com circulação do poliovírus ou exigência específica.